I. HISTÓRICO
O Programa de Pós-graduação em Microbiologia stricto sensu (PPG Microbiologia) da Universidade Federal da Bahia (UFBA) foi aprovado pela CAPES em março de 2016 e iniciou suas atividades com a primeira turma em 21 de novembro de 2016. O PPG Microbiologia tem área de concentração em Microbiologia e apresenta três linhas de pesquisa: Microbiologia Geral e Microbiologia Ambiental, Microbiologia Animal e Microbiologia Humana. O Programa tem sede no Instituto de Biologia (IBIO) e é um curso interunidades da UFBA, com as seguintes Instituições associadas, além do IBIO: Instituto de Ciências da Saúde (ICS), Faculdade de Farmácia (FacFar), Instituto de Saúde Coletiva (ISC), Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia (ESCMEVZ), em Salvador, e Instituto Multidisciplinar em Saúde (IMS/CAT), em Vitória da Conquista. Contamos ainda com um professor sediado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e outro na Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC – Ilhéus/Bahia).
O Programa deu início às atividades com 17 professores no total, sendo 14 permanentes e 3 colaboradores. A criação do PPG Microbiologia deu-se em função de fortes demandas locais e regionais, detalhadas a seguir.
A formação de recursos humanos em Microbiologia em nível de Pós-graduação no Estado da Bahia iniciou-se através da criação em 2005 do curso de Especialização em Microbiologia (lato sensu) sediado na Faculdade de Farmácia da UFBA. Este curso de Especialização permanece em funcionamento e forma profissionais para o mercado, principalmente para atuar em Laboratórios de Análises Clínicas e Bioquímica, na capital, Salvador, e no interior do Estado da Bahia. A Especialização em Microbiologia surgiu como uma opção para os profissionais que retornam à Universidade em busca de atualização de seus conhecimentos e de inserção profissional. Desde a sua criação, esta Especialização teve grande importância regional, principalmente na formação de profissionais que não possuem a disponibilidade de deslocamento para a região Sudeste do País, onde concentra-se o maior número de PPGs na área. Alguns professores do corpo docente do Curso de Especialização em Microbiologia também fazem parte atualmente do corpo docente do Programa de Pós graduação strictu sensu em Microbiologia: na FacFar, as Dra. Joice Neves Reis Pedreira e Dra. Tânia Fraga Barros; no ICS, o Dr. Milton R. Abreu Roque; no IBIO, a Dra. Paula Ristow e o Dr. Pedro Milet Meirelles; e na ESCMEVZ, a Dra. Melissa Hanzen Pinna. O curso de especialização tem caráter permanente e já formou um total de 100 alunos.
Neste histórico de formação de recursos humanos em Microbiologia em Salvador e Bahia, devemos também ressaltar os trabalhos desenvolvidos no Instituto de Ciências da Saúde da UFBA. O Laboratório de Imunologia foi criado em 1982 no ICS/UFBA e teve os seus primeiros projetos de pesquisa na área da Imunologia Veterinária. Em colaboração com a antiga Empresa de Pesquisa Agropecuária da Bahia – EPABA (posteriormente Empresa Baiana de Pesquisa Agrícola – EBDA), neste Laboratório testou-se vacinas contra o mal do caroço dos caprinos (linfadenite caseosa, causada por Corynebacterium pseudotuberculosis) e desenvolveu-se testes de imunodiagnóstico e por métodos de biologia molecular, para a detecção desta enfermidade. O laboratório é coordenado pelo Prof. Roberto Meyer, professor colaborador no PPG Microbiologia, e tem papel importante na formação de estudantes de graduação e pós-graduação.
Diante da demanda de formação de recursos humanos na área de Microbiologia, na região Nordeste temos uma pequena oferta de cursos de pós-graduação. Até 2016 na região Nordeste havia apenas uma Pós-graduação stricto sensu em Microbiologia Médica, níveis Mestrado e Doutorado, no Ceará (nota 5 na CAPES). Na Universidade Federal da Bahia, nos últimos 13 anos, ingressaram profissionais com titulação de doutorado e pós-doutorado, egressos de Universidades de renome em Microbiologia no Brasil e no exterior (UFRJ, UFMG, USP, UNICAMP, Universidad de Buenos Aires) e hoje são líderes de grupos de pesquisa e coordenam laboratórios em diversas áreas da Microbiologia (como exemplos os Drs. Adriana Medeiros, Milton Roque, Paula Ristow, Luís Gustavo Carvalho Pacheco, Silvia Sardi, Lucas Miranda Marques, Pedro Milet Meirelles). Frente à inexistência de curso de Pós-graduação stricto sensu em Microbiologia no Estado da Bahia, parte destes professores atuaram, até a criação do Programa de Pós-graduação em Microbiologia em 2016, em outros Programas de Pós-graduação em áreas correlatas (Biotecnologia, Ecologia, entre outros) e formaram recursos humanos em microbiologia; porém, estes estudantes eram anteriormente absorvidos por Programas de PG em outras áreas do conhecimento. No ano de 2015, diversos professores que atuavam na área de Microbiologia oriundos da UFBA (Instituto de Biologia, Instituto de Ciências da Saúde, Faculdade de Farmácia, Escola de Medicina Veterinária e Zootecnica, Instituto de Saúde Coletiva, Instituto Multidisciplinar em Saúde), bem como do Instituto Gonçalo Moniz (Fiocruz), da Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC) e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com ampla rede de colaboração entre os próprios professores e com membros externos, elaboraram a proposta da criação do Programa de Pós-graduação stricto sensu em Microbiologia na UFBA.
II. CONTEXTUALIZAÇÃO
Devido à criação do PPG Microbiologia na UFBA, Bahia, dois fenômenos que formavam o cenário da formação em microbiologia no Estado nos últimos anos estão em transição: (i) os alunos/pesquisadores interessados em realizar uma pós-graduação em microbiologia, que teriam que recorrer a programas em outras Unidades da Federação, principalmente na região Sudeste, atualmente têm a possibilidade de cursar o Mestrado no Estado; (ii) os alunos/pesquisadores com vocação e formação prévia (iniciação científica, bacharelado) em microbiologia no Estado da Bahia, além de terem a opção de realizar a pós-graduação no Estado em outras áreas do conhecimento como Imunologia, Biotecnologia, Patologia, Biologia Molecular, dentre outras, tem a oportunidade de cursar o Programa de Pós-graduação em Microbiologia. Estes fatores são o reflexo da necessidade de formação de recursos humanos em microbiologia na região Nordeste como um todo e somam-se ao fato de termos criado nos últimos anos massa crítica no Estado, com bons pesquisadores/professores que atuam na área de microbiologia, o que fomentou a criação em 2016 do novo curso de Pós-graduação em Microbiologia (nível de Mestrado).
O PPG Microbiologia está sediado no Instituto de Biologia (IBIO) da UFBA, em Salvador (BA), e inserido numa área geográfica e ambiente acadêmico muito favoráveis, principalmente por sediar um curso de graduação em Ciências Biológicas, grande área do conhecimento que alberga a área de Microbiologia. O IBIO possui docentes que atuam fortemente na área, inclusive coordenando laboratórios de pesquisa, e que estão capacitados tanto a ministrar disciplinas quanto a orientar estudantes de Mestrado e Doutorado.
O curso de Pós-graduação em Microbiologia (UFBA) tem o potencial de reduzir as desigualdades regionais. O Plano Nacional de Pós-Graduação (PNPG 2011-2020) aponta a assimetria que existe entre as regiões do país em relação aos cursos de Pós-graduação, sendo o Nordeste uma das regiões onde a concentração de pós-graduações é menor. Diante dessa realidade, o PNPG 2011-2020 tem como objetivo definir novas diretrizes, estratégias e metas para dar continuidade e avançar nas propostas para a política de pós-graduação e pesquisa no Brasil, buscando reduzir as desigualdades regionais e equilibrar a distribuição de recursos humanos. Nesse sentido, o curso de Microbiologia está dentro de uma proposta nacional que visa expandir os cursos de pós-graduação e ao mesmo tempo atender demandas criadas tanto no âmbito acadêmico (qualificação profissional e desenvolvimento de pesquisas em áreas específicas), quanto para o mercado (profissionais qualificados para atender as demandas da sociedade).
Nesta perspectiva se insere o curso de Pós-graduação em Microbiologia da Universidade Federal da Bahia, onde projetos envolvidos pela visão multi e interdisciplinar do corpo docente podem reduzir desigualdades sociais, o que representa uma demanda na área de microbiologia. Esta realidade, enfrentada no cotidiano pelo corpo docente, já tem sido traduzida em resultados, como exemplificado pelos estudos em Corynebacterium pseudotuberculosis realizados ao longo de 30 anos; pelos trabalhos de biologia, patogênese, diagnóstico e epidemiologia de Leptospira desenvolvidos nos últimos onze anos; pela estruturação do primeiro grupo do Estado da Bahia a atuar no tema de Biologia Sintética; por modelos biológicos na área ambiental para o biomonitoramento de áreas contaminadas por hidrocarbonetos; por trabalhos de excelência em virologia e especialmente em Zika vírus; por pesquisas em Mycobacterium tuberculosis, agente da tuberculose em humanos, e outras bactérias patogênicas; por trabalhos que envolvem o desenvolvimento de vacinas; por pesquisas que envolvem as “ômicas”, a bioinformática e as análises de metadados, tando em pesquisas ambientais quanto médicas.
Compreender a microbiologia de uma forma abrangente e em linhas de pesquisa convergentes representa um avanço para a ciência regional e uma maior integração com outras Universidades e regiões do país e do exterior consolidados na área de microbiologia. Um enorme esforço tem sido realizado pelos governos federal, estadual e municipal para uma maior qualificação dos egressos das cadeiras da Universidade, e esta não deixa de ser uma realidade da UFBA, onde devemos representar uma vertente para a absorção dos alunos egressos, seja pelo mercado ou pela opção de qualificação profissional técnico/acadêmica. Um curso pioneiro em microbiologia na região Nordeste torna-se uma via importante de qualificação e de fortalecimento do ensino de Pós-graduação para o Estado e para a região.
II A) CONTEXTUALIZAÇÃO REGIONAL: É importante conhecer o contexto nacional dos Cursos de Pós-graduação em Microbiologia e na área de Ciências Biológicas III (CB III). A área CB III, considerando PPGs em Microbiologia, Imunologia e Parasitologia, apresenta a seguinte distribuição geográfica dos Cursos de PG: Sudeste (44,4%), Nordeste (19,4%), Norte (16,7%), Centro-Oeste (11,1%) e Sul (8,3%) (Documento de área 2019). Além da forte concentração dos Programas na Região Sudeste, tratam-se de programas com conceito CAPES 5 a 7. As regiões Norte e Nordeste, além de concentrarem menos programas, a maioria deles têm conceito CAPES de 3 a 5. Em área correlata, temos na UFBA os cursos de Pós-graduação, níveis Mestrado e Doutorado, em Biotecnologia (ICS e Renorbio) onde, de forma colaborativa e estruturada, os trabalhos realizados em microbiologia básica podem representar o “background” necessário para desenvolvimento biotecnológico. Ainda, o PPG Microbiologia não contempla a área de Microbiologia Industrial, podendo caminhar ao lado da Biotecnologia e muitas vezes gerar hipóteses cientificas que, se traduzidas em produtos e bioprocessos, podem trazer um importante impacto para ambas as áreas.